Hoje me surpreendi com um e-mail em minha caixa de mensagens, com o título “Ser feliz não tá com nada”. Como assim felicidade não está com nada se tudo o que nos move é tentar alcançá-la? Existe até o Dia Internacional da Felicidade, criado pela ONU, em jun/2012, como “uma forma de reconhecer a importância da felicidade na vida das pessoas em todo o mundo”.(1)
Atualmente, percebe-se alguns movimentos do tipo “gratiluz”, “good vibes”, da ostentação da alegria, do bem-estar, dos bens materiais (às vezes nem possuem), porém acobertando os próprios problemas, os sofrimentos ou sentimentos considerados como não tão legais, porém muito humanos, como tristeza, medo, raiva ou ingratidão. A esta imposição de se apresentar “sempre bem” denomina-se positividade tóxica ou positivismo extremo.
Aí perguntamos: é possível ser otimista o tempo todo e negar os problemas naturais da vida? Vejamos o que a Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva(2), psiquiatra, diz a respeito do tema:
“É precisamente nisso que consiste a positividade tóxica ou positivismo extremo: impor a nós mesmos — ou aos outros — uma atitude falsamente positiva, generalizar um estado feliz e otimista seja qual for a situação, silenciar nossas emoções ‘negativas’ ou as dos outros.”(3)
Observe um exemplo de positividade tóxica: “Já aconteceu de você contar algo negativo sobre sua vida para alguém e, em vez de ouvir e acolher, a pessoa dizer: “Mas pelo menos…” ou então “É só você pensar positivo.”?(3)
Para Joanna de Ângelis, o amar a si próprio inicia no “sentimento pessoal de respeito à própria individualidade, que propõe os limites dos direitos na medida dos deveres executados”. Somente aí haverá condições para considerar os valores alheios, “com a consequente liberdade dos outros indivíduos”(4).
Jesus nos ensinou que o amor ao próximo como a nós próprios é o mandamento tão importante quanto o amar a Deus acima de todas as coisas. “Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos” (Mt, 22:40). Conclui-se que somente se pode amar a Deus verdadeiramente se amar o próximo, e vice-versa. E amar o outro significa fazer a ele tudo o que gostaríamos que nos fosse feito.
Paulo Apóstolo compreendeu tanto esta verdade que, em sua 1ª Carta aos Coríntios, declarou: “Quando mesmo eu tivesse a linguagem dos anjos; quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios; quando tivesse toda a fé possível, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Dentre estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade”(5). Melhor dizendo, “fora da caridade não há salvação”. Por meio da caridade e da humildade, Jesus mostrou ser este o caminho da felicidade eterna.
Então, amar o próximo nos credencia à verdadeira felicidade. E como proceder? Acolhê-lo, escutá-lo com interesse, sem julgamento, ampará-lo em suas dores e necessidades (sejam estas de natureza física ou moral), agir com empatia e, sobretudo, não minimizar ou desqualificar seu sofrimento ou o nosso próprio (lembra do “como a nós mesmos”?).
Sabe por que não é possível ser positivo o tempo todo? Por que não podemos minimizar e desqualificar a dor do outro e nem os nossos medos e ansiedades? Porque este comportamento gera mais dor, mais sofrimento.
Aceitar em nós (e no outro) sentimentos de alegria, bem-estar em contraponto com as emoções negativas como raiva, mágoa, angústia, culpa, desespero, medo, rancor, tédio, vergonha e por aí vai, representa um passo importante para o autoconhecimento e, consequentemente, para o processo de cura e evolução do ser. Segundo Santo Agostinho, o autoconhecimento é a chave do desenvolvimento do espírito.
No vídeo abaixo, os Amigos da Luz ilustram uma situação sobre a Arte de Ouvir:
Todos temos dias ruins e isso é muito natural num mundo de provas e expiações.
Saibamos ouvir de verdade e sem pré-conceitos; não exigir melhora rápida, pois que o retorno ao equilíbrio não é algo automático ou instantâneo. É um processo longo e dolorido, muitas vezes.
E o espírita? Será que pelo fato de conhecer os princípios da Doutrina Espírita, a ciência da vida futura, a necessidade da reencarnação, a finalidade da caridade, está isento de sentir emoções negativas?
Vejamos como nossos Amigos da Luz tratam este assunto:
De hoje em diante, façamos assim (6):
Diante deste estudo, fiquemos com Joanna de Angelis(7):
“Enfrenta com naturalidade os teus limites e angústias [grifo nosso], confiante na vitória, não te evadindo dos deveres que te compete realizar.”
“Concede-te o direito de ser humano [grifo nosso] e o dever de cresceres sempre, sem que te detenhas no degrau ou patamar onde te encontras.”
De fato, ser feliz sozinho ou sufocar os sentimentos negativos próprios ou do próximo, ao invés de compreendê-los, realmente, “não tá com nada”!
Vamos conversar mais sobre esse tema na nossa próxima live de sábado às 18h no YouTube com nosso podcast! A live será no canal do Cefak no YouTube! Aguardamos você no Podlá!
O que achou do conteúdo? Gostaria de fazer algum comentário sobre o tema? Ficou com alguma dúvida? Deixe seu comentário!
Referências
(1) https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-03/dia-da-felicidade-apesar-da-pandemia-e-possivel-celebrar
(2) https://www.youtube.com/watch?v=voGrdDrkEB0
(3) https://www.bbc.com/portuguese/geral-55278174
(4) O Homem Integral – Ditado pelo espírito Joanna de Ângelis – psicografado por Divaldo Franco
(5) O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec
(6) http://laraprendizesdoevangelho.blogspot.com/2020/08/o-que-e-positividade-toxica-e-como-isso.html
(7) Jesus e a Atualidade – Ditado pelo espírito Joanna de Ângelis – psicografado por Divaldo Franco