Olá, Juventude Espírita!
Voltamos com nosso post dedicado à sétima arte e, porque não, à cultura pop!
Como pudemos ver na postagem sobre Cultura Pop, o cinema sempre foi expressão mobilizadora de sentimentos e, com o advento e expansão gigantesca da cultura pop, ganhou mais formas criativas de produzir obras. Nos últimos anos, talvez a onda mais forte da cultura pop sobre o cinema foram os filmes de super-heróis. Então, o desafio de todos nós, especialmente da juventude espírita, é se podemos aproveitar nosso filme de heróis e conectá-lo a lições relevantes do Evangelho e do Espiritismo. Será que isso é possível?
Para mostrar que
Hoje, esse desafio será enfrentado em relação ao mais recente filme da Marvel Studios, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis.
Se você ainda não viu o filme, aguce sua curiosidade! Este conteúdo pode ser revelador, mas não chegará a prejudicar seu entretenimento!
Vale ressaltar que esses filmes produzidos pela Marvel Studios, muito embora estejam carregados de cenas de lutas, tiros, explosões e outros eventos semelhantes, buscam não chocar as plateias com violência excessiva, o que colabora para que os filmes sejam vistos por um amplo espectro de pessoas (esses caras entendem muito de mercado da cultura pop). Dito isso, são filmes que possuem enredos que buscam trazer debates que também fazem parte da vida das pessoas, mesmo dentro da fantasia.
Neste conteúdo vamos explorar os dois personagens centrais da trama, Shang-Chi e seu pai, Wenwu.
Inicialmente nos é apresentado o personagem Shaun, que está vivendo uma vida tranquila como manobrista em um hotel de luxo em San Francisco junto a sua amiga Katy. Os dois aproveitam a vida, apesar de alguns amigos e familiares estejam sempre cobrando a falta de ambição deles para o futuro. No entanto, a organização dos Dez Anéis chega para interromper a vida tranquila de Shaun, atacando-o. Ele escapa de forma espetacular, deixando transparecer sua verdadeira identidade: Shaun é na verdade Shang-Chi, um treinado para ser um assassino por seu pai, Wenwu, um guerreiro mestre e possuidor dos lendários Dez Anéis.
Shang-Chi, acompanhado da amiga Katy, viaja para a China para confrontar Wenwu, encontrar a irmã distante e igualmente mortal de Shang-Chi, Xialing, e descobrir a verdade por trás da morte de sua mãe Jiang Li, que pode estar ligada à sua terra natal mística, Ta-Lo. A partir daí se desenvolve toda a história.
Dela destacamos dois aspectos (i) a insistência de um pai em submeter seus filhos a uma linha de pensamento rígida e adequada tão-somente aos objetivos (duvidosos) dele, e (ii) a ilusão de Wenwu de que ouvia o espírito de sua esposa para libertá-la de uma prisão, fazendo com que Wenwu tomasse atitudes de forma cega e ainda mais radicais em relação aos filhos.
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis acaba se tornando mais interessante quando apresenta um retrato íntimo das relações interpessoais que o herói tem com cada personagem, particularmente com seu pai. Um personagem sério, poderoso, tirânico, mas que também apresenta “luzes” interiores e possibilidades de apresentar aspectos positivos de sua personalidade, especialmente quando a história retrata seu passado com a esposa desencarnada.
Isso mostrou um lado interessante que depois será explorado por influências fora da matéria sobre a mente de Wenwu. Essas forças malignas retratadas no filme conseguiram fixar a ideia de que o povo da aldeia natal de sua esposa é que estava aprisionando seu espírito, e que, portanto, ela deveria ser destruída para permitir a libertação da esposa. O filme em nenhum momento cita, mas quem tem o conhecimento dos mecanismos da obsessão, percebe facilmente a forma disfarçada e convincente que os obsessores trabalharam sobre o pai de Shang-Chi para que ele ficasse obcecado por essa ideia que não tinha a menor consistência.
Em uma síntese primordial sobre a Obsessão, Kardec explica:
“Assim como as moléstias resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral é preciso que se contraponha uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, é preciso fortificá-lo; para garantir a alma contra a obsessão, tem-se que fortalecê-la. Daí, para o obsidiado, a necessidade de trabalhar pela sua própria melhoria, o que na maioria das vezes é suficiente para livrá-lo do obsessor, sem o socorro de pessoas estranhas. Este socorro se torna necessário quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque neste caso o paciente não raro perde a vontade e o livre-arbítrio.“
(A Gênese, Cap. XIV, item 46, grifo nosso).
De fato, o sentimento de carinho pela esposa foi deturpado para um sentimento de posse e vingança, dirigindo Wenwu para uma tentativa de submissão de seus filhos para ajudá-lo nesse propósito equivocado, apelando para a figura terna da mãe que veio a desencarnar brutalmente “por culpa do seu próprio povo”. Observem que o pai de Shang-Chi estava completamente subjugado, servindo aos propósitos mais inferiores. Mais ao final do filme, revela-se que a voz que Wenwu ouvia era da entidade (no caso do filme, “encarnada”) que desejava libertar-se para continuar sua jornada de trevas.
Somente quando isso aconteceu é que Wenwu despertou na subjugação, após uma espetacular luta com Shang-Chi.
Em um primeiro momento, como é tradição em filmes de heróis, temos a luta entre o bem e o mal. Mas, vejamos: embora a luta física entre pai e filho revele aparentemente uma animosidade mútua, Shang-Chi também lutava principalmente para despertar seu pai da ilusão que lhe acometia. A luta não é de vida ou morte, mas uma luta que pode ser interpretada como o socorro oferecido pelo filho em favor do pai para sair da obsessão. O combate à obsessão requer Amor, carinho e paciência de quem ajuda, pois são elementos que darão a força necessária para persistir, lutar e manter o equilíbrio para finalmente abrir os olhos da pessoa amada e subjugada pela espiritualidade inferior.
Essa mistura de sentimentos de ternura com sentimentos de vigor é que se mostra relevante na nossa vida real e que, de alguma forma, se configurou no embate entre os parentes no filme.
Não era uma luta entre inimigos, especialmente pela visão de Shang-Chi, cujo carinho do pai, mesmo após sua vitória na luta, era evidente.
Nessa parte da história, é muito tranquilo associar com a lição da piedade filial. Assim está registrado no Cap. XX, item 3, onde extraímos o seguinte trecho:
“Alguns pais, é certo, descuram de seus deveres e não são para os filhos o que deviam ser; mas a Deus é que compete puni-los e não a seus filhos. Não compete a estes censurá-los, porque talvez hajam merecido que aqueles fossem quais se mostram. Se a lei da caridade manda se pague o mal com o bem, se seja indulgente para as imperfeições de outrem, se não diga mal do próximo, se lhe esqueçam e perdoem os agravos, se ame até os inimigos, quão maiores não hão de ser essas obrigações, tratando-se de filhos para com os pais! Devem, pois, os filhos tomar como regra de conduta para com seus pais todos os preceitos de Jesus concernentes ao próximo e ter presente que todo procedimento censurável, com relação aos estranhos, ainda mais censurável se torna relativamente aos pais.”
O conflito familiar entre Shang-Chi e Wenwu é uma história atemporal de pais e filhos, e é nessa relação específica em que o filme tem seus picos emocionais. O filme começa e termina no relacionamento deles e, para nossa alegria, culmina em um terceiro ato com um confronto emocionalmente (visualmente e sentimentalmente).
Temos aqui os dois temas conjugados, refletindo boa parte da realidade das famílias que enfrentam conflitos: quase a totalidade deles temos a presença de alguma influência espiritual, que precisará ser devidamente tratada. E, como Kardec afirmou, se não for pela própria pessoa que permitiu a influência, terá de ser por outro familiar que, com seu Amor, estará disposto a lutar não com o parente, mas contra a influência negativa.
Shang-Chi lutou para resgatar o afeto do seu pai pela família, praticando não apenas a piedade filial, mas resgatando algo que talvez estivesse relacionado a seus compromissos estabelecidos em outros planos da vida.
Para finalizar, acompanhem o interessante comentário de Rossandro Klinjey sobre o desafio evolutivo da família:
Viram como cultura pop pode ser muito útil para nos conectar com a sabedoria do Evangelho de Jesus e da Doutrina Espírita?
Vamos conversar mais sobre esse tema na nossa próxima live de sábado às 18h no YouTube com nosso podcast! A live será no canal do Cefak no YouTube! Aguardamos você no Podlá!
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